5.6.2 Procedimentos de Organização, Tratamento e Análise dos Dados Qualitativos

5.6.2 Procedimentos de Organização, Tratamento e Análise dos Dados Qualitativos

 

Com base nos tópicos das questões dessa investigação, os dados da fase qualitativa foram analisados por meio da Análise Temática, assente no modelo proposto por Braun e Clarke (2006). Para organizar e codificar os dados, fez-se uso do software NVivo, da QSR International, versão 1.7.1.

A Análise Temática pode ser definida como “a method for identifying, analysing, and reporting patterns (themes) within data” (Braun & Clarke, 2006, p. 6). Envolve “the searching across a data set – be that a number of interviews or focus groups, or a range of texts – to find repeated patterns of meaning” (Braun & Clarke, 2006, p. 15). Contudo, de acordo com as autoras, a AT pode contribuir para, além de organizar e descrever as ideias implícitas e explícitas encontradas no conjunto de dados, interpretar diversos aspectos do tema investigado.

A opção pelo uso da AT nessa pesquisa deu-se por ser um método flexível, sem vinculação com um arcabouço teórico específico, podendo, assim, ser utilizado com diferentes abordagens epistemológicas e uma ampla gama de questões de pesquisa (Braun & Clarke, 2006; Clarke & Braun, 2013). Além disso, a AT pode ser aplicada a conjuntos de dados diversificados e de tamanhos variados, como é o caso da presente investigação (entrevistas individuais, entrevistas em grupos focais e respostas a perguntas descritivas obtidas por meio de questionários) e, ainda, pode ser utilizada para produzir análises baseadas em dados (data-driven) ou baseadas em teoria (theory-driven) (Clarke & Braun, 2013).

Embora seja utilizada amplamente e em várias áreas, somente há pouco mais de uma década a AT começou a ganhar reconhecimento como método de análise (Clarke & Braun, 2013). Porém, antes disso, Braun e Clarke (2006) já apontavam a amplitude do uso da AT, enfatizando, contudo, a importância de se explicitar claramente o processo e a prática desse método para seu maior reconhecimento.

Nesse sentido, para facilitar seu uso e assegurar o rigor necessário à aplicação da AT, essas autoras organizaram um guia passo a passo de seis fases para desenvolver a Análise Temática, embora deixem claro que esta análise não é um processo rígido, linear, mas sim recursivo, envolvendo um constante movimento para frente e para trás ao longo das fases, entre o conjunto de dados, os extratos codificados e a análise que está sendo produzida com base nesses extratos (Braun & Clarke, 2006, p. 15).

Na codificação dos dados dessa investigação, buscou-se seguir as etapas sugeridas por Braun e Clarke (2006), apresentadas na Tabela 49.

Tabela 49

Fases da Análise Temática

Fase

Descrição do processo

1. Familiarizando-se com os dados

Transcrever os dados (se necessário), ler e reler os dados, anotar as ideias iniciais.

2. Gerando códigos iniciais

Codificar as características interessantes dos dados de forma sistemática em todo o conjunto de dados, coletar dados relevantes para cada código.

3. Buscando temas

Agrupar códigos em temas potenciais, reunindo todos os dados relevantes para cada tema potencial.

4. Revisando temas

Verificar o funcionamento dos temas em relação aos extratos codificados (Nível 1) e a todo o conjunto de dados (Nível 2), gerando um “mapa” temático da análise.

5. Definindo e nomeando temas

Analisar novamente para refinar as especificidades de cada tema e a história geral contada pela análise; gerar claras definições e nomes para cada tema.

6. Produzindo o relatório

A última oportunidade para a análise. Seleção de exemplos vívidos e convincentes de extratos, análise final dos extratos selecionados, relacionando análise, questão da pesquisa e literatura, produzindo um relato acadêmico da análise.

Nota. Traduzido de Braun e Clarke (2006, p. 87).

A codificação foi realizada a partir da combinação das abordagens indutiva (derivada dos dados) e dedutiva (derivada das questões da pesquisa e revisão de literatura). Desse modo, embora as questões da pesquisa e a literatura tenham orientado o processo de codificar, alguns temas emergiram na análise das transcrições das falas dos respondentes.

A cada item das entrevistas e questões dissertativas foi atribuída a mesma atenção durante o processo de codificação, na busca por identificar os padrões repetidos e, consequentemente, os temas.

Na Fase 1 – Familiarizando-se com os dados –, comum a todas as formas de análise qualitativa (Clarke & Braun, 2013), deu-se o contato prévio com os dados. Primeiramente, de 01/06 a 31/08/2023, foram feitas as transcrições das 18 entrevistas realizadas com gestores, professores e estudantes, analisadas em conjunto com as respostas das três questões descritivas dos questionários aplicados (ponto positivo do uso das TD, ponto negativo do uso das TD e prática com o uso das TD que se destacou durante o ERE). Após a realização da transcrição, fez-se a transferência de todo o material transcrito e das respostas às questões descritivas retiradas dos questionários para o software NVivo, que possibilitou a exploração, visualização e interpretação mais precisa e apurada desses dados. 

Para uma imersão profunda e ampla no conteúdo dos dados em análise, fez-se, inicialmente, a leitura cuidadosa, buscando os significados explícitos e latentes e tentando evitar vieses oriundos do conhecimento prévio e da experiência prática da autora.

Em seguida, fez-se uma releitura imersiva de todas as transcrições das entrevistas e das respostas às questões dissertativas, na qual foram identificadas, e destacadas em cor diferente, várias ideias relevantes, relacionadas às questões da pesquisa. Ao final dessa fase, havia 4.682 ideias destacadas (Tabela 50), revelando a amplitude dos dados analisados. 

Apesar da amostra ser ampla e sua leitura e releitura terem envolvido bastante tempo, a familiarização com os dados da pesquisa foi um passo essencial para as demais fases da análise, pois ajudaram a compreender melhor os dados como um todo e a refinar as habilidades de leitura e interpretação atentas necessárias na análise dos dados (Braun & Clarke, 2006), facilitando, assim, o processo de codificação mais formal do estágio seguinte da análise.

Na Fase 2 - Gerando códigos iniciais -, também uma prática comum a várias abordagens de análise qualitativa (Clarke & Braun, 2013), buscou-se organizar as ideias destacadas na Fase 1 em grupos significativos por proximidade semântica, codificando-os.

Nesse momento, lembrando que codificar não é simplesmente reduzir dados (Clarke & Braun, 2013), o foco consistiu em buscar características (conteúdos semânticos e conceituais) interessantes dos dados, os códigos. Os códigos diferem dos temas, já que estes são, em geral, mais amplos (Braun & Clarke, 2006).

Boyatzis (1998, p. 63) define código como o segmento “mais básico dos dados brutos que pode ser avaliado de maneira significativa com relação ao fenômeno” estudado. Saldaña (2013, p. 3), por sua vez, define código na investigação qualitativa como “a word or short phrase that symbolically assigns a summative, salient, essence-capturing, and/or evocative atribute for a portion of language-based or visual data”.

Assim como o título de um livro, filme ou poema, um código representa e captura o conteúdo e a essência de um dado (Saldaña, 2013). Bryman (2012, pp. 709-710) sintetiza código na investigação qualitativa como “the process whereby data are broken down into component parts, which are given names”.

Com os arquivos das transcrições das entrevistas e respostas das questões descritivas devidamente organizados no NVivo, foi feita a releitura cuidadosa de todo o conjunto de dados e iniciada sua codificação. Diversos códigos foram criados com base nas questões de pesquisa (theory-driven) e em questões que emergiram da leitura e releitura dos dados (data-driven) (Braun & Clarke, 2006), por meio da seleção, rotulação e nomeação de frases ou parágrafos (inclusive as ideias relevantes destacadas na fase anterior), utilizando-se o recurso de codificação do NVivo. Desse modo, todos os extratos foram rotulados e agrupados nos códigos criados.

Na visão de Braun e Clarke (2006, p. 6), um extrato é “an individual coded chunk of data, which has been identified within, and extracted from, a data item”. Um item de dados, por sua vez, é cada dado individual coletado que, junto com os outros, formam o conjunto de dados ou corpus da pesquisa (Braun & Clarke, 2006, p. 6). No caso dessa investigação, cada entrevista (individual e em focus group) transcrita e cada documento com as respostas das questões descritivas constituem em si itens de dados. Já um extrato consiste em cada segmento codificado extraído desses itens.

Durante o processo de codificação, procurou-se, mais do que meramente rotular, extrair o significado explícito, as ideias subjacentes, o dito e o implícito nos dados, relacionando-os.

Nesse momento, vários foram os códigos criados, pois tudo o que tinha alguma relação (direta ou indireta) com as questões da pesquisa, era imediatamente codificado. Entretanto, manteve-se o cuidado de codificar os dados de forma inclusiva, buscando abranger, quando necessário, os dados circundantes à informação relevante, para não perder o contexto do que foi dito, uma das críticas ao processo de codificação na análise qualitativa (Bryman, 2012). Alguns extratos foram codificados várias vezes, em diferentes códigos, por ilustrarem cada um deles (Bryman, 2012).

Ao final da Fase 2, obteve-se um total de 101 códigos e subcódigos iniciais (n=101), contendo 4.682 ideias relevantes que foram destacadas e criadas a partir de uma ou mais frases e/ou parágrafos. O alto número de códigos é justificado pela extensão do banco de dados, composto por 27 itens (12 entrevistas individuais, 6 entrevistas em focus group e 9 questões descritivas). A Tabela 50 sintetiza o resultado dos processos das fases 1 e 2.

Tabela 50

Fases 1 e 2: Familiarização dos Dados e Geração de Códigos Iniciais

Questões de pesquisa e pontos emergentes da leitura dos dados

Códigos e subcódigos iniciais

Ideias relevantes destacadas

1. Que tecnologias digitais foram utilizadas por professores e estudantes do ensino médio da rede pública estadual de ensino do RN na mediação das atividades pedagógicas remotas desenvolvidas no período da pandemia da Covid-19?

Tecnologias utilizadas; Razões de uso das TD; Desconhecimento acerca das TD; Domínio das TD; Tecnologia incorporada no ERE; Tecnologias impressas; Contribuição das TD para o ensino e a aprendizagem; Razões da contribuição; Dificuldades e desafios enfrentados durante o ERE; Comprometimento do aprendizado, dúvidas não esclarecidas; Não abordagem ou não compreensão de todos os conteúdos; Dependência ou uso  excessivo das TD; Desafios da pós-pandemia; ERE e Domestização do ensino; Evasão e falta de participação e feedback nas aulas; Exclusão digital; Falta de acesso às TD; Despreparo no uso e má qualidade dos recursos digitais; Falta de preparo/formação para o uso das TD; Limitações de acesso a bons dispositivos e a uma boa internet; Falta de foco, de concentração, distração, motivação; Falta de formação e de tempo para adaptação para o uso das TD; Falta de suporte dos órgãos oficiais, escola, pais e professores; Sobrecarga de trabalho, conteúdo e atividade; Timidez.

1.776

2. Como foram desenvolvidas as práticas de ensino e aprendizagem remotas no ensino médio e quais as mudanças e agregações nelas ocorridas em decorrência da pandemia da Covid-19, na visão de diferentes agentes escolares (gestores, professores e estudantes)?

Práticas avaliativas; Práticas de uso das TD; Mudanças nas práticas com TD no ERE; Práticas incorporadas na pandemia; Percepção de forma de uso das TD; Prática que se destacou.

1.037

3. Os diferentes agentes escolares (gestores, professores e estudantes) pretendem agregar as possíveis novas práticas de uso das tecnologias digitais às suas atividades após a pandemia?

Continuidade do uso das TD no pós-pandemia; Razões para não continuidade; Benefícios do ERE; Ampliação das habilidades no uso das TD; Aproxima aluno da tecnologia; Busca por (auto) formação; Colaboração entre os pares e entre aluno e professor; Reconhecimento da importância das TD; Proximidade professor-aluno.

327

Pontos emergentes da leitura das transcrições das entrevistas e indiretamente relacionados às questões da investigação

Impactos na saúde física, mental  e emocional; Ansiedade; Falta de apoio emocional; Sobrecarga emocional e psicológica; Percepção acerca das TD; Percepção do ERE; Falta de ensino qualificado.

135

Pontos emergentes da leitura das questões descritivas relacionados às questões da investigação

Distração, procrastinação, falta de foco, de concentração, de interesse e de motivação; Falta de compromisso, responsabilidade, autonomia; Falta de comunicação, limita a  convivência social e socialização; Falta de estrutura tecnológica da escola e órgãos superiores; Falta de interação professor-aluno e aluno-aluno; Falta de segurança na rede; Falta do contato físico, isolamento; Falta ou má administração do tempo; Má organização das aulas ou estudos remotos; Plágio, falta de escrita, uso acrítico e não criativo das TD; Preguiça, cansaço, comodismo.

Amplia a participação do aluno; Amplia o alcance simultâneo a um maior número de pessoas; Amplia, facilita, atualiza e diversifica os recursos pedagógicos e estratégias de ensino e avaliação; Aproxima professor e aluno; Aproximação das tecnologias; Armazenamento dos conteúdos para posterior acesso; Atrai e motiva aluno e professor; Aumento da concentração nos estudos; Ausência de pontos positivos; Colaboração entre pares e todos e trocas de experiências; Comunicação a distância; Continuidade dos estudos; Desenvolve o pensamento crítico; Disponibilidade de recursos digitais para celular; Estimula e melhora o ensino e a aprendizagem; Estudo em casa; Facilidade para pesquisar; Facilita  e amplia o acesso à informação e ao conteúdo e conhecimento; Facilita a comunicação e realização de atividades fora da sala; Facilita e amplia modos de aprender e compreender o conteúdo; Facilita e torna atrativos, práticos, dinâmicos, organizados e interativos o ensino e a aprendizagem; Facilita o trabalho administrativo da escola; Familiaridade das TD; Favorece a aprendizagem sobre as TD e desenvolvimento de habilidades sobre TD; Favorece a interatividade e a interação professor e aluno, aluno e aluno, aluno e conteúdo; Favorece a leitura e a pesquisa; Favorece o exercício da criatividade e a inovação; Flexibilidade de tempo e espaço para acessar atividades e conteúdos; O acesso às TD; O recurso em si e a ampliação do seu uso; Participação em eventos online; Possibilita fazer formações; Possibilita praticidade; Promove a autonomia no aprender e ensinar; Promove a inserção da escola, aluno, professor na cibercultura; Promove aprendizagem significativa e inclusiva; Reconhecimento da importância das TD; Traz ludicidade ao ensino e à aprendizagem; Uso cotidiano das TIC; Uso das TD nos estudos.

1.407

Total

101 códigos e subcódigos

4.682

 

Na Fase 3, Buscando Temas, o foco foi descobrir os padrões e relações existentes dentro e através do conjunto de dados. Para Braun e Clarke (2006, p. 10), o tema “captures something important about the data in relation to a research question and represents some level of patterned response or meaning within the data set”. Nessa linha, não se define um tema por medidas quantificáveis, mas por sua capacidade de capturar algo importante relacionado à questão geral da pesquisa.

Clarke e Braun (2013, p. 121), anos depois, definem tema como “a coherent and meaningful pattern in the data relevant to the research question”. Nesse mesmo texto, as autoras diferenciam códigos e temas, por meio de uma comparação: “If codes are the bricks and tiles in a brick and tile house, then themes are the walls and roof panels” (Clarke & Braun, 2013, p. 121). Para elas, buscar temas, enquanto processo ativo, é como codificar os códigos para identificar similaridades entre os dados.

De acordo com Bryman (2012), tema é uma categoria identificada pelo pesquisador através de seus dados, relacionada com seu foco e questões de investigação e baseada em códigos identificados nas transcrições, fornecendo ao investigador a base para compreender teoricamente seus dados e, assim, contribuir para a literatura relativa ao foco da pesquisa.

Com o auxílio do NVivo, foi feita a releitura dos códigos e extratos identificados e listados na Fase 2, desta vez, focando nas relações entre eles e entre os potenciais “overarching themes” (Braun & Clarke, 2006) e seus níveis.

Durante a releitura, os códigos e extratos de dados codificados foram combinados e agrupados em temas que representavam sua essência, tanto os gerados a partir das questões da pesquisa como os que emergiram durante a análise dos dados. Nesse processo, alguns códigos e extratos foram mesclados ou excluídos, havendo uma redução significativa no número de códigos ou sua junção e transformação em temas e subtemas. Porém, houve o cuidado de não descartar algo que poderia fazer falta em fase posterior da análise, pois, alguns códigos, embora não tivessem ligação direta com as questões de pesquisa, poderiam servir posteriormente para aprofundar alguma referência dos participantes.

Apesar de Braun e Clarke (2006) afirmarem que seria ideal se houvesse ocorrências do tema em todo o conjunto de dados, elas apontam que uma maior ou menor ocorrência não torna necessariamente um tema mais importante do que outro.

Ressalte-se que, na identificação dos temas dessa análise, considerou-se toda informação que pareceu importante em relação às questões da pesquisa. Ainda assim, os temas abrangentes identificados aparecem em quase todos os itens do conjunto de dados da investigação.

Ao final dessa fase, ao buscar capturar a essência dos códigos gerados e organizados no NVivo, percebeu-se uma conexão entre eles, o que tornou possível agrupá-los em 5 temas abrangentes (Tecnologias utilizadas no ERE; Benefícios das TD no ERE; Continuidade do uso das TD no pós-pandemia; Dificuldades e desafios enfrentados durante o ERE; Práticas de uso das TD), compostos por 37 subtemas que foram organizados no Mapa Temático Inicial (Figura 16), para ajudar na representação visual, como sugerem Braun e Clarke (2006).

 

Figura 16

Mapa Temático Inicial da AT

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A Fase 4 – Revisando temas – reforça que codificar é um processo contínuo e recursivo (Braun & Clarke, 2006). Nesse estágio, objetivou-se refinar o processo de codificação até então realizado, buscando averiguar se os temas funcionavam relativamente aos extratos codificados e ao conjunto de dados como um todo.

Para isso, Braun e Clarke (2006) sugerem o uso de dois critérios propostos por Patton (2002) para julgar categorias: homogeneidade interna (há coerência significativa entre os dados dentro dos temas, de modo a formar um padrão entre eles) e heterogeneidade externa (os temas distinguem-se entre si de forma clara). A partir desses critérios, Braun e Clarke (2006) apresentam dois níveis a serem seguidos para revisar e refinar os temas nessa fase.

O nível 1 consiste em reler os extratos alocados em cada tema, para verificar se formam um padrão coerente, ou seja, se há homogeneidade interna. Havendo homogeneidade interna, passa-se ao nível 2.

Se não houver homogeneidade, deve-se observar se o problema está no tema eleito ou nos extratos nele colocados. Se for o caso, é preciso criar um novo tema para os extratos que não se adequam ao tema onde se encontram ou excluí-los da análise. Feito isso, se os temas representarem os dados codificados, tem-se um mapa temático homogéneo e satisfatório. Nesse caso, pode-se ir para o nível 2 dessa fase.

O nível 2 consiste em reler todo o banco de dados (transcrições das entrevistas e respostas às questões descritivas dos questionários), para verificar a validade de cada tema individual relativamente ao conjunto de dados, ou seja, se o mapa temático representa com precisão o conjunto de dados, e, além disso, codificar dados adicionais que passaram despercebidos nas fases anteriores (Braun & Clarke, 2006). Mais uma vez, percebe-se que codificar é um processo recursivo.

Souza (2019) criou um esquema para representar os dois níveis dessa fase. Esse esquema foi adaptado neste estudo para mostrar o processo de revisão e refinamento realizado nesta fase da AT (Figura 17).

Figura 17

Funcionamento dos Níveis da Fase 4

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Nota. Adaptado de Souza (2019, p. 59).

Observando-se a Figura 17, percebe-se que, no primeiro nível, fez-se a leitura dos extratos alocados em cada tema, verificando se formavam um padrão lógico e coerente. Como não houve coerência entre alguns dos extratos analisados, eles foram realocados ou deletados. Mas, percebeu-se que, em alguns casos, o problema era o tema em si. Nessa situação, após a realocação ou descarte dos extratos neles inseridos, os temas problemáticos foram apagados. Ao final desse processo, houve uma redução de 37 para 28 subtemas.

Não houve necessidade de criação de nenhum tema novo, visto que os códigos criados nas fases anteriores procuraram abranger todo o conjunto de dados. Esse processo analítico foi feito com todos os extratos de cada candidato a tema e subtema até a obtenção de um padrão coerente entre os extratos e em todos os temas e subtemas em relação ao banco de dados da pesquisa. Ao final desse processo, seguiu-se, então, para o nível 2 da Fase 4.

No segundo nível, seguiu-se um procedimento semelhante junto ao banco de dados da pesquisa, em que se procurou averiguar se cada um dos temas gerados representava o banco de dados e se combinavam entre si. Após a releitura do banco de dados, foi preciso reposicionar um dos subtemas para outro tema, com o qual se harmonizava mais (Desafios da pós-pandemia foi deslocado de Dificuldades e desafios do ERE para Continuidade do uso das TD no pós-pandemia).

Buscou-se, ainda, verificar se algum dado relevante passou despercebido no processo de codificação realizado nas fases anteriores. Após a releitura, verificou-se que nenhum dado adicional emergiu e que os temas e subtemas refinados no nível 1 representavam o banco de dados, estando em harmonia com o discurso dito e implícito pelos pesquisados. Portanto, partiu-se para a fase seguinte da análise.

A Figura 18 apresenta o Mapa Temático em Desenvolvimento, resultante da análise da Fase 4, que ficou composto por 28 subtemas inseridos em 5 temas abrangentes.

 

Figura 18

Mapa Temático em Desenvolvimento da AT

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Após a definição e refinação dos temas e subtemas, na Fase 4, foram definidos 5 temas que, em razão de sua complexidade e abrangência e para uma melhor estruturação do seu conteúdo, ficaram compostos por 28 subtemas.

Na Fase 5, Definindo e nomeando temas, foi feita a releitura dos temas, com vistas a verificar sua concisão e precisão e identificar a essência de cada tema e subtema. Nesse processo, foi necessário renomear alguns temas e subtemas, para tornar seus nomes mais “concisos, contundentes e informativos” (Clarke & Braun, 2013).

Nessa fase, buscou-se atingir a homogeneidade interna e a heterogeneidade externa, satisfazendo, assim, o critério de dupla via de Patton (2002). Ao final do processo, o Mapa Temático final da AT ficou constituído de 5 temas e 28 subtemas (Figura 19).

Figura 19

Mapa Temático Final da AT

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Com o mapa temático finalizado, seguiu-se para a Fase 6 da análise temática: Produzindo o relatório, estágio final do modelo proposto por Braun e Clarke (2006).

Tendo em vista o design metodológico adotado nessa investigação - sequencial explanatório -, a AT realizada, abrangendo temas, subtemas e respectivos extratos das transcrições das entrevistas e das questões dissertativas identificados no desenvolvimento das fases da AT, serviu para aprofundar a análise dos dados quantitativos, complementando-os. Desse modo, o relato final da Análise Temática integrou o capítulo 6 - Apresentação, Análise e Discussão dos Resultados. A análise integrada dos resultados dos dados quantitativo e qualitativos deu-se no período de 01/12/2023 a 19/04/2024.

No relatório final da AT, houve a preocupação em descrever, de modo conciso e coerente, a história contada pelos dados, relacionando-a com as questões da investigação e a literatura. Nesse processo, considerou-se cada tema em si e sua relação com os outros temas (Braun & Clarke, 2006). Além disso, a presença dos temas nos dados analisados foi evidenciada por meio da seleção de extratos pontuais e vívidos.

Vale salientar que os procedimentos de recolha e análise dos dados aqui apresentados foram desenvolvidos sequencialmente de modo a seguir as orientações de autores que abordam a abordagem multimétodo (Creswell & Creswell, 2018; Creswell & Plano Clark, 2018), relativamente ao design sequencial explanatório, adotado neste estudo.