6.3.1 Utilização das Tecnologias Digitais durante a Pandemia na Visão dos Gestores
6.3.1 Utilização das Tecnologias Digitais durante a Pandemia na Visão dos Gestores
O gestor escolar é a pessoa responsável por garantir a aplicação das leis e normas que regulam a escola, por atender aos órgãos mantenedores da sua rede de ensino e, mais importante, por mediar as atividades pedagógicas desenvolvidas dentro da instituição educativa, buscando assegurar que os alunos recebam uma educação de qualidade.
A pandemia da Covid-19 e a subsequente paralisação das aulas presenciais fizeram emergir enormes desafios não apenas para professores e alunos, mas também para as equipes gestoras das escolas públicas brasileiras, principalmente no que se refere à organização e adequação estruturais para o acesso dos estudantes às aulas e atividades remotas. Sem falar na pouca familiaridade de alguns gestores/as escolares (diretor/a, supervisor/a e coordenador/a) com as tecnologias digitais, especialmente no início da pandemia.
Nesse contexto, em questão abordando o grau de preparação tecnológica: (i) da escola, (ii) dos professores e (iii) dos estudantes para transitar do regime presencial para o remoto, na perspectiva dos gestores que participaram dessa investigação, em uma escala de respostas de 4 pontos (0 = Nenhum; 1 = Muito pouco; 2 = Algum; 3 = Total), obteve-se os resultados apresentados na Tabela 65.
Tabela 65
Grau de Preparação da Escola, Professores e Estudantes para o ERE
Grau de preparação para transitar para o ERE |
Média |
DP |
Nenhum (0) |
Muito pouco (1) |
Algum (2) |
Total (3) |
||||
N |
% |
N |
% |
N |
% |
N |
% |
|||
Escola |
1,15 |
0,512 |
5 |
6,7% |
54 |
72% |
16 |
21,3% |
0 |
0% |
Professores |
1,43 |
0,597 |
2 |
2,7% |
41 |
54,6% |
30 |
40% |
2 |
2,7% |
Estudantes |
1,15 |
0,651 |
9 |
12% |
48 |
64% |
16 |
21,3% |
2 |
2,7% |
Considerando-se que o valor a ser assinalado poderia ser de 0, mínimo, a 3, máximo, estipulou-se que valores entre 0 e 1,50 ponto representam um nível baixo de preparação; valores entre 1,51 e 2,25 representam um nível moderado; e entre 2,26 e 3 pontos, um nível elevado. Ressalta-se que essa correspondência entre valores e níveis é válida para todas as questões com escala de valores de 0 a 3.
Logo, os resultados observados na Tabela 65 evidenciam níveis baixos de preparação para migrar para o ERE por parte dos três segmentos analisados (escola/gestor, professor e estudante).
Constata-se também que o segmento professor (M=1,43, DP=0,597) apresentou o score mais elevado dos três, indicativo de uma melhor preparação para a transição para aulas remotas. Quando os dados são cotejados, nota-se que, para os gestores, os professores estavam mais preparados para o ERE do que a escola e os estudantes.
Verifica-se que os segmentos escola e estudante apresentam scores iguais (M=1,15), sendo o DP apresentado pelo segmento estudante (DP=0,651) um pouco mais elevado do que o do segmento escola (DP=0,512).
Nesse sentido, quanto ao segmento escola, nenhum dos respondentes (0%) acredita que ela estava totalmente preparada. Por outro lado, para 12% dos gestores, os estudantes não tinham nenhum preparo para o ensino remoto, enquanto apenas 6,7% afirmam o mesmo em relação às próprias escolas.
Nas entrevistas e nas respostas às questões descritivas, os gestores mencionam as razões do despreparo da escola, enquanto instituição e do gestor, dos professores e estudantes para migrar para o ERE, deixando evidente sua conexão com a exclusão digital e seus efeitos no ensino e aprendizagem.
Essa relação vai desde à falta de estrutura tecnológica das escolas até a inabilidade dos professores de lidar com os recursos digitais, corroborada nas falas dos gestores: “Falta infraestrutura na escola para auxiliar as aulas com as tecnologias” (G56, comunicação pessoal, 9 de setembro de 2022); “Em determinados momentos, a internet não permitia o acesso e os dispositivos existentes na escola estavam precisando de reparos” (G68, comunicação pessoal, 28 de outubro de 2022);
Então, houve, sim, falta de domínio para usar esses recursos. Porque a gente não trabalhava antes com SigEduc, por exemplo. A gente já trabalhava para registro de nota e frequência, mas com o Ambiente Virtual Escola Digital, não. No início, foi difícil usar o próprio Google Meet, o Zoom. Porque nem todo mundo tinha, assim, desenvoltura. Num universo de 50 professores, 3 dominavam bem. (GEAP, comunicação pessoal, 20 de outubro de 2022)
Com relação aos estudantes, os gestores relataram a exclusão digital, causada pela vulnerabilidade social:
Foi uma grande dificuldade para os alunos. Porque a maioria... a gente acha que todo aluno hoje tem celular e não é assim. Para a aula síncrona, era difícil a questão da internet; nem todos tinham. É porque a maioria são alunos vulneráveis socialmente. Ou não tinham internet ou não tinham celular. (GEAP, comunicação pessoal, 20 de outubro de 2022)
A falta de preparo das escolas da rede estadual do RN para migrar para o ERE não se deu em um contexto isolado, conforme corrobora o Centro de Inovação para a Educação Brasileira (CIEB, 2022, p. 4), organização sem fins lucrativos voltada a estimular a cultura de inovação e o uso de tecnologias nas escolas para promover a qualidade e a equidade na educação pública brasileira.
De acordo com o Relatório Guia EduTec – diagnóstico do nível de adoção de tecnologia nas escolas públicas brasileiras (CIEB, 2022), elaborado a partir dos resultados de um questionário aplicado pelo CIEB a 104.219 gestores escolares das redes públicas da educação básica, de janeiro a outubro de 2022, a pandemia consolidou a relevância da tecnologia para os processos de ensino, aprendizagem e gestão. Porém, evidenciou a fragilidade das escolas públicas brasileiras em termos de infraestrutura (conexão à internet, dispositivos e equipamentos), que se encontram no nível emergente, o mais baixo dos 4 níveis de adoção de tecnologias das escolas (seguem ao emergente, os níveis básico, intermediário e avançado).
A falta de preparo de grande parte das escolas do Brasil para transitar de aulas presenciais para aulas remotas também é comprovada pela pesquisa TIC Educação 2020 (CETIC.BR, 2021b), cujos resultados revelaram que somente um quinto das escolas investigadas realizou atividades a distância antes da pandemia. Esta pesquisa investiga o acesso, o uso e a apropriação das tecnologias de informação e comunicação pela comunidade educacional, especialmente alunos e professores. Na edição de 2020, ocorrida entre setembro de 2020 e junho de 2021, em razão das restrições impostas pela Covid-19, ela foi realizada apenas com gestores escolares. Nela, participaram 3.678 gestores de escolas brasileiras.
A pandemia e suas restrições (distanciamento social, confinamento doméstico, suspensão de aulas presenciais, adoção do ensino remoto, etc.) trouxe consigo novos desafios para a escola e complexificou alguns já existentes.
A gestão escolar – diretor, supervisor e coordenador – teve que lidar com desafios sem precedentes na história da educação contemporânea, como o de ter que gerir, remotamente e sem preparação, conforme demonstrado, os processos pedagógico, administrativo e financeiro da escola.
Alguns dos desafios enfrentados pelos gestores em suas unidades escolares durante o ERE referem-se às limitações de acesso às tecnologias digitais para intermediar as atividades pedagógicas e gerir as tarefas administrativas de modo remoto, apresentadas na Figura 36. Na questão, os gestores tinham a opção de selecionar várias respostas.
Figura 36
Limitações de Acesso do Gestor às TD para Realizar as Atividades Remotas
Nesse sentido, da amostra total (n = 75), apenas 25 gestores (33,3%) afirmaram já possuir todos os recursos digitais necessários para desenvolver as atividades durante o ERE.
Contudo, essa não foi a realidade dos demais respondentes, cujas limitações de acesso se relacionaram com a falta de computador, celular e internet (14,6%) ou de uma internet de baixa qualidade (22,7%), quando a ela tinham acesso. Em resposta a questão descritiva sobre o uso das TD durante a pandemia, um gestor citou a “internet de baixa qualidade, carência financeira para adquirir equipamentos e falta de conhecimentos sobre tecnologias digitais” (G6, comunicação pessoal, 28 de julho de 2022) como pontos negativos no ERE.
Além disso, boa parte dos gestores comprovou a falta de acesso a dispositivos ou internet, ao confirmarem ter usado equipamentos e internet da escola ou de outras pessoas (13,3%) ou ter comprado equipamentos novos (40%), tendo esta limitação sido a mais apontada pelos inquiridos.
Apesar de alguns gestores terem recorrido aos recursos digitais da escola, nem sempre eles correspondiam ao que era esperado. Relativamente à internet na escola, um dos gestores colocou como ponto negativo no ERE a “falta de internet ou internet de péssima qualidade na escola” (G47, comunicação pessoal, 22 de outubro de 2022). Ainda nesse sentido, em conversa com outra gestora, ela desabafou: “A internet da escola não era boa e não tinha internet para os professores. Inclusive, quando tivemos que criar as salas no Google Classroom, o meu Gmail chegou a travar, porque a gente recebia e-mail de todas as turmas” (GEA, comunicação pessoal, 5 de novembro de 2022).
Mais uma vez, os dados revelam a exclusão digital, o maior desafio do ERE. Segundo Moran (2022, p. 5), a pandemia expôs” a extrema desigualdade de acesso ao digital e de condições de estudo e pesquisa na maioria das residências”, que passou a ser o ambiente de trabalho desses profissionais no ano de 2020 e parte de 2021.
Além das restrições vivenciadas durante a pandemia (confinamento doméstico, isolamento social, proibição de aulas presencias, falta de convívio físico, etc.), o próprio ensino remoto trouxe consigo vários desafios para os gestores escolares.
No entanto, quando a gestão se sente apoiada, técnica e pedagogicamente, pela rede de ensino de que faz parte, a tarefa de gerir a escola em momento tão desafiador torna-se mais leve, pois, compartilhada.
Em vista disso, perguntados se a rede de ensino do RN – DIREC e SEEC-RN –disponibilizou apoio técnico-pedagógico referente às tecnologias para a promoção do ensino remoto, os maiores percentuais ficaram divididos entre os que afirmaram que a rede de ensino “não disponibilizou nenhum auxílio” (27%) e aqueles que disseram que a rede disponibilizou “alguma coisa, sim, mas não foi o suficiente” (48%), conforme demonstra a Figura 37. Em menores proporções, alguns gestores declararam que a rede disponibilizou tudo o que precisavam (6,7%) ou que não tinha sido necessário apoio, pois já possuíam todos os recursos (9,3%).
Figura 37
Apoio Técnico-Pedagógico Disponibilizado aos Gestores pela Rede de Ensino do RN
A falta de suporte, aliada a um sentimento de abandono por parte dos órgãos oficiais, foram dificuldades vivenciadas pelos gestores no ERE, mencionadas em seus depoimentos ao responderem às questões descritivas: “Falta de apoio estrutural (equipamentos tecnológicos, wi-fi, etc.) à escola, aos professores e alunos por parte da SEEC-RN e abandono da Educação, por parte do MEC” (G4, comunicação pessoal, 28 de julho de 2022).
Moran (2022, p. 3) assevera que, antes mesmo da pandemia, a educação já vinha experimentando um movimento de transformação profunda, tendo, entre outros, três componentes como contributos decisivos: “metodologias ativas, modelos híbridos/flexíveis e competências digitais”. Para ele, competências como “saber transitar na cultura digital, ter domínio de aplicativos e linguagens que ampliem as possibilidades de aprender em diferentes espaços, tempos e de múltiplas formas” são cada vez mais enfatizadas.
Dada a relevância da competência digital dos gestores escolares, especialmente no período pandêmico, foi-lhes perguntado se haviam realizado formação sobre o uso das TD nos 12 meses que antecederam a pandemia da Covid-19 e durante a pandemia, o que lhes daria mais confiança para gerir as práticas escolares durante o ERE.
A Figura 38 mostra que, enquanto antes da pandemia, apenas 23 gestores (30,7%) afirmaram ter realizado formação sobre o uso das TD, durante a pandemia, esse número duplicou, atingindo 51 gestores (68%) que confirmaram ter buscado formação sobre o tema, o que mostra a percepção desses sujeitos sobre sua falta de preparo para o ensino remoto.
Figura 38
Realização de Formação sobre TD pelos Gestores Antes e Durante a Pandemia
Como já mencionado ao longo desse estudo, a busca por formação pelos educadores (professores e gestores escolares) do RN e Brasil durante a pandemia, especialmente no ano de 2020, foi bastante intensiva (Tamanini & Souza, 2021; Tamanini et al., 2021; Instituto Península, 2020). A necessidade de aprender a lidar com tecnologias digitais para oferecer aulas remotas pode ter impulsionado essa busca por formação. É o que confirma a fala a seguir:
Sentimos a dificuldade também, porque tivemos que praticamente aprender, fazer a formação juntamente com os professores. Nós tínhamos esses aplicativos, mas nós não tínhamos essa prática. O lado positivo foi o aprendizado. Porque essas tecnologias, elas vieram para chacoalhar. Eu acho que o lado positivo da pandemia foi esse. Porque você aprendeu, passou na marra a buscar essa formação. (GEA, comunicação pessoal, 5 de novembro de 2022)
Os gestores escolares, assim como os professores, também precisam estar continuamente atualizando seus saberes, via cursos de formação continuada, interação e trocas de experiências com seus pares. Na pandemia, durante o período de isolamento social, em razão de serem as tecnologias o único meio de interação com professores, alunos e pais, essa necessidade agudizou.
Contudo, a falta de oferta de formações, citada como ponto negativo no uso das TD durante o ERE, foi um empecilho para o gestor atualizar suas competências digitais. É o que se depreende da fala seguinte: “Faltou formação para uso das tecnologias digitais educacionais” (G62, comunicação pessoal, 20 de outubro de 2022).
No que tange à quantidade de formações sobre TD realizadas durante a pandemia pelos 51 gestores, as maiores frequências estão entre os que fizeram 2 (n = 16) e 3 (n = 10) formações. Há quem afirme ainda ter feito mais de 10 formações durante a pandemia (n = 5), conforme mostra a Figura 39.
Figura 39
Quantidade de Formações sobre TD Realizadas pelos Gestores durante a Pandemia
Quanto ao tipo de formação sobre os recursos digitais realizada durante a pandemia, dos 51 gestores que participaram de cursos, oficinas, lives, palestras, etc., apenas 8 deles buscaram formações formais, enquanto o restante dos inquiridos ficou dividido entre formações informais (n = 21) ou entre ambas, formais e informais (n = 22).
Os temas abordados nas formações sobre TD realizadas no período da pandemia foram sugeridos em uma questão de múltipla escolha com possibilidade de respostas múltiplas.
Contudo, havia a opção “Outro”, em que os respondentes poderiam descrever temas não citados nos demais itens da questão. Na Figura 40, pode-se visualizar dois temas acrescentados pelos gestores escolares (Kahoot e YouTube).
Figura 40
Temas das Formações sobre TD Realizadas pelos Gestores durante a Pandemia
Em conformidade com os dados analisados e apresentados na Figura 39, observa-se que as maiores frequências em relação aos temas das formações se concentram nos aplicativos da Google, sendo o tema mais escolhido as Ferramentas Google (n = 44), seguido do Google Meet (n = 39), bastante utilizado na realização de reuniões com a comunidade escolar e no acompanhamento e apoio das aulas síncronas, conforme comprova a fala de um dos gestores entrevistados: “Muitas vezes, eu tinha que abrir o Meet, ficava lá para a professora dar aula. Aí, quando ela aprendeu, deu certo. Eu não sei muito, tenho muito o que aprender ainda, mas, eu gosto muito de buscar (GEM, comunicação pessoal, 13 de outubro de 2022).
O WhatsApp e o SigEduc, apesar de serem recursos já utilizados pelos inquiridos, ainda foram selecionados como temas das formações realizadas por 26 e 29 gestores, respectivamente.
Relativamente aos organizadores das formações sobre recursos digitais realizadas pelos gestores, do mesmo modo que o segmento professor, obtiveram as maiores frequências a SEEC-RN ou outros órgãos oficiais regionais ou locais, como os Núcleos de Tecnologia Estaduais e Municipais (n = 36) e a escola em que os gestores atuavam (n = 24). Ademais, muitos buscaram formação particular (n = 18), conforme mostra a Figura 41.
Figura 41
Quem Organizou as Formações Realizadas pelos Gestores durante a Pandemia
De acordo com a pesquisa TIC Educação 2020 (CETIC.BR, 2021b), no Nordeste, região brasileira onde estão localizadas as escolas participantes dessa investigação, 83% dos gestores das escolas públicas da rede estadual afirmaram que sua rede de ensino ofertou formação para os professores sobre o uso pedagógico das tecnologias nos 12 meses que antecederam o referido estudo (realizada entre setembro de 2020 a junho de 2021).
Na efetivação das aulas e atividades remotas, vários recursos digitais foram utilizados. Nessa seara, os gestores apontaram, em questão de múltipla escolha e múltiplas opções de respostas, as principais tecnologias que, na sua percepção, foram utilizadas para a realização das atividades remotas nas escolas onde atuavam. Na Figura 42, é possível visualizá-las.
Figura 42
Tecnologias Utilizadas durante o ERE nas Escolas onde os Gestores atuavam
Vale ressaltar que a perspectiva dos gestores se diferencia da percepção dos professores e estudantes, já que estes últimos utilizaram, nas suas práticas de ensino e aprendizagem, os recursos por eles apontados. Contudo, no caso dos gestores, embora eles tenham feito uso das tecnologias para acompanhar e efetivar as atividades pedagógicas e administrativas da escola, incluindo acompanhar as aulas, repassar informações e interagir com os pais, alunos e professores, sua percepção quanto ao uso pedagógico dos recursos digitais por professores e estudantes é baseada na sua observação pessoal ou em relatos feitos por estes indivíduos ou por terceiros, o que pode acarretar imprecisões.
Os dispositivos móveis, celular (82,7%) e notebook (70,7%) foram os mais apontados. Em um momento de tantos desafios para a escola, é natural a busca pelo que já é familiar e acessível, daí o alto percentual do uso do celular. Em conversa com os gestores, a predominância no uso destes dispositivos foi confirmada, explicada pela falta de opção a outros dispositivos:
Acredito que a grande maioria dos alunos usou celular. Que era até uma dificuldade. Porque, assim, às vezes o Word... o professor pedia um documento em Word. Os alunos diziam: "ah, meu celular não roda isso, não roda essa versão". Então, os professores usaram basicamente notebook, os alunos, celular, e a gente da gestão, celular e notebook. (GEAP, comunicação pessoal, 20 de outubro de 2022)
Os professores que não tinham notebook, tiveram que trabalhar do celular. A maior parte dos professores da escola. Mas, alguns usaram computador de mesa ou notebook. Já os alunos, a maioria usava o celular. E muitos eram celulares dos pais. E a maior dificuldade que eles tinham era quando os pais trabalhavam fora, porque eles não podiam assistir às aulas já que os pais estavam com os celulares. (GEA, comunicação pessoal, 5 de novembro de 2022)
Em termos de aplicativos, os mais utilizados foram os grupos de mensagens (85,3%), incluindo as redes sociais (WhatsApp, Instagram, Telegram, Facebook), para se comunicar e interagir com docentes, discentes, pais ou outros responsáveis pelos estudantes. Entre os grupos de mensagens, o WhatsApp destacou-se, por ser um aplicativo já conhecido e utilizado antes mesmo da pandemia, sendo, portanto, de fácil manuseio. Nas narrativas abaixo, os gestores mencionam ter sido esse o primeiro aplicativo ao qual a escola, professores e alunos recorreram nas atividades e aulas remotas:
O primeiro passo foi o WhatsApp. Tanto é que eu criei os grupos de WhatsApp para todas as turmas. Além dos grupos de WhatsApp dos alunos, tínhamos que criar os grupos de WhatsApp para montar os grupos da escola, da equipe pedagógica, do pessoal de apoio. (GEA, comunicação pessoal, 5 de novembro de 2022)
A primeira tecnologia que eles usaram foi o WhatsApp. Nós iniciamos criando o grupo de WhatsApp das turmas, onde a gente colocava as informações. O WhatsApp era usado para mandar as atividades nos grupos. Alguns professores. Outros mandavam pelo Classroom. Mas, mesmo assim, o WhatsApp foi de externa importância, porque lá no grupo, eles botavam as datas, os links, onde é que os alunos deveriam acessar. (GEM, comunicação pessoal, 13 de outubro de 2022)
O uso de Ambientes Virtuais de Aprendizagem (SigEduc, Classroom) e de vídeos do YouTube obteve percentual equivalente e alto (73,3%), embora ainda inferior ao percentual do uso de aplicativos de webconferência, como Google Meet, Zoom e Microsoft Teams (80%), e de materiais online, como livros digitais, hipertextos e vídeos (76%).
Segundo depoimentos dos gestores, algumas escolas utilizaram mais o SigEduc e outras, mais o Classroom. As razões para o uso do SigEduc relacionavam-se ao fato de ser este o AVA adotado pela SEEC-RN e por ser familiar, pois já vinha sendo utilizado desde antes da pandemia, ainda que de forma limitada, para registro de notas e frequência. O fato de permitir reunir, em um só ambiente, o registro, não apenas das notas e frequências dos estudantes, mas das atividades desenvolvidas foi, portanto, um ponto a favor na escolha do SigEduc. Essa praticidade é percebida na fala do gestor GEAP:
A gente priorizou muito os recursos que estavam dentro do AVA Escola Digital do SigEduc porque eles já serviam de registro para computar a carga horária. O professor que tinha uma aula de 50 minutos, teria que desenvolver, por exemplo, um vídeo para os alunos e deixar uma atividade no SigEduc. No Escola Digital, ficava tudo registrado. A gente pediu que não fosse utilizado o WhatsApp como ferramenta pedagógica. Os grupos no WhatsApp eram apenas para comunicação. Era basicamente o Escola Digital. Assim, live no YouTube, depois o professor podia anexar o link no Escola Digital. Mesmo que usasse outro recurso, mas que deixasse registrado para a gente contabilizar essa carga horária. (GEAP, comunicação pessoal, 20 de outubro de 20222)
As limitações apresentadas pelo SigEduc restringiram o seu uso por parte de um número ainda mais alto de professores e alunos, levando-os ao uso do Classroom, como um substituto mais fácil e menos complicado. Isto fica patente na narrativa de GEM:
Alguns professores usaram o SigEduc. Eles achavam que a plataforma do governo tinha algumas limitações. Inclusive, para os alunos. Por exemplo, tinha um professor que é da área de tecnologias. Ele colocava algumas atividades no SigEduc, só que os alunos não conseguiam abrir, não conseguiam acessar nos celulares deles. Eles tentavam e ele tentava ajudar. Mesmo assim, o sistema tinha muitas limitações. Então, a maioria optou pelo WhatsApp e pelo Classroom. As aulas síncronas eram realizadas pelo Meet e as assíncronas, pelo Classroom. Usaram esses recursos pela facilidade. Porque a gente tinha o sistema do governo, mas não funcionou muito bem. (GEM, comunicação pessoal, 13 de outubro de 2022)
Além dos vídeos do YouTube, o uso de videoaulas gravadas pelos próprios professores também obteve um percentual bastante significativo (60%), mostrando a autonomia assumida pelos docentes frente às tecnologias no período pandêmico e a capacidade de se reinventar, inovar suas práticas de ensino. É o que reforça GEAP (Comunicação pessoal, 20 de outubro de 2022), na entrevista: “Então, tinha professor que se adaptou, gravou suas próprias aulas. Tinha professor que utilizava aulas do YouTube. Tinha professor que organizava o material didático e colocava no Escola Digital”.
Bonilla e Pretto (2011, p. 11), há mais de uma década, já defendiam que o uso da internet deve estar aliado ao fortalecimento da produção cultural e científica, de modo que “o diálogo entre o local e o universal ganhe uma dimensão igualitária e ampla e a escola insira-se nesse processo de forma autoral e ativista”. Em 2022, Pretto e Bonilla reforçam a defesa do uso autoral das tecnologias na sala de aula, afirmando não se tratar mais de “transferir aos alunos conhecimentos, e, sim, de tornar alunos e professores autores, com capacidade para desconstruir e reconstruir os conhecimentos a partir de outras combinações, formatos e perspectivas, sempre pensando que essa produção deva se dar de forma colaborativa” (Pretto & Bonilla, 2022, p. 147).
Portanto, para que a escola possa ser produtora de informação e conhecimento na rede, é preciso que seus professores e alunos sejam autores, e não meros consumidores do conteúdo que circula no espaço virtual. Ao produzir seus próprios vídeos e compartilhá-los nos ambientes digitais virtuais, o professor adota uma postura ativa na tessitura social do ciberespaço, deixando de ser mero reprodutor e tornando-se produtor do conteúdo que ali é veiculado.
No que concerne às tecnologias menos utilizadas, na percepção dos gestores, destacaram-se o E-mail (38,7%), os aplicativos de quiz - Kahoot, Socrative, Mentimeter, Plickers, etc. (36%) e os aplicativos de colaboração - Padlet, Jamboard, Google Drive e Documentos compartilhados (24%).
A Figura 42 mostra que o uso de apostilas e materiais impressos obteve um percentual bastante alto (69,3%), o que reforça, mais uma vez, a preocupante desigualdade digital e social de gestores, professores, alunos e familiares das escolas do ensino médio do RN. A pandemia potencializou e evidenciou a complexa, porém antiga, questão da exclusão digital, a qual vem caracterizando e fragilizando a educação escolar brasileira, trazendo a lume a relação desigual existente entre as diferentes classes sociais com relação ao acesso a tecnologias digitais, desigualdade que se somou a outras, de cunho social e econômica.
As edições 2020 e 2021 da pesquisa TIC Educação (CETIC.BR, 2021b; 2022b) comprovaram que a exclusão digital, especialmente dos estudantes, foi um óbice nacional e não restrito ao RN, já que, em ambas, a falta de dispositivos e de acesso à internet entre os estudantes foi citada como um desafio durante a pandemia por 86% dos gestores escolares, em 2020, e por 91% dos professores das escolas públicas, em 2021.
A utilização de TD por parte de todos os segmentos escolares foi intensa durante a pandemia. Dessa forma, em pergunta questionando se o uso de tecnologias digitais durante a pandemia ampliou as habilidades com relação ao uso de tecnologias: (i) dele, enquanto gestor escolar, (ii) dos estudantes e (iii) dos professores, em uma escala de resposta de 4 pontos (0 = Em nada ampliou; 1 = Ampliou pouco; 2 = Ampliou razoavelmente; 3 = Ampliou muito), obteve-se, em cada um dos segmentos, os resultados descritos na Tabela 66.
Tabela 66
Grau de Ampliação das Habilidades no Uso de TD por Gestores, Professores e Estudantes na Percepção dos Gestores
Grau de Ampliação das Habilidades no Uso de TD |
Média |
DP |
Em nada ampliou (0) |
Ampliou pouco (1) |
Ampliou razoavelmente (2) |
Ampliou muito (3) |
||||
N |
% |
N |
% |
N |
% |
N |
% |
|||
Gestores |
2,33 |
0,723 |
0 |
0% |
11 |
14,7% |
28 |
37,3% |
36 |
48% |
Professores |
2,41 |
0,660 |
0 |
0% |
7 |
9,3% |
30 |
40% |
38 |
50,7% |
Estudantes |
1,89 |
0,781 |
0 |
0% |
27 |
36% |
29 |
38,7% |
19 |
25,3% |
A leitura da Tabela 66 evidencia índices elevados de ampliação das habilidades dos gestores (M=2,33, DP=0,723) e dos professores (M=2,41, DP=0,660) no uso das TD. Já quanto aos estudantes, o valor médio apresentado indica um nível moderado de ampliação (M=1,89, DP=0,781), sendo este o segmento que apresenta o score mais reduzido.
Por outro lado, apesar de todos os segmentos terem, em algum grau, ampliado suas habilidades no uso de TD durante a pandemia, contata-se que os professores apresentaram o índice mais elevado de ampliação.
Nesse sentido, GEA (Comunicação pessoal, 5 de novembro de 2022) afirma que essa ampliação também se deve ao que se aprendeu com os estudantes: “Eu acho que tanto aprendeu o professor, como o aluno. Aprendemos muito, eu acho até que mais com o aluno do que com o próprio professor ensinando ao aluno”.
A ampliação das habilidades no uso das TD dos gestores escolares durante o ERE também é reconhecida pelos gestores em seus depoimentos em resposta à questão descritiva do questionário, ao citarem como pontos positivos no uso das TD na pandemia a “ampliação dos conhecimentos e práticas sobre recursos digitais” (G63, comunicação pessoal, 27 de outubro de 2022) e “o conhecimento em si das tecnologias, como os recursos para reuniões online e facilidade na propagação das informações” (G45, comunicação pessoal, 22 de outubro de 2022).
Embora a visão dos gestores em relação aos estudantes tenha sido menos otimista, em comparação consigo e com os professores, nas questões descritivas do questionário, alguns gestores mencionaram como benefícios do ensino remoto: “Melhorou a habilidade dos alunos no uso das TIC” (G21, comunicação pessoal, 9 de setembro de 2022) e “Atualização do conhecimento sobre as TIC, deixando antenados docentes e discentes” (G35, comunicação pessoal, 7 de outubro de 2022).
Em questão buscando averiguar a pretensão de continuidade de utilização dos recursos digitais incorporados nas atividades escolares durante a pandemia, com o retorno total ao ensino presencial, organizada em uma escala de resposta de 4 pontos (0 = Não, pois eles não contribuem para as atividades presenciais; 1 = Não, porque poucos dos recursos utilizados contribuem com as atividades presenciais; 2 = Sim, acredito que alguns dos recursos digitais foram incorporados como apoio às atividades pedagógicas; 3 = Sim, acredito que a grande maioria dos recursos digitais foi incorporada como apoio às atividades pedagógicas), os resultados obtidos estão descritos na Tabela 67.
Tabela 67
Pretensão de Continuidade de Uso das TD nas Atividades Escolares na Volta ao Ensino Presencial na Percepção dos Gestores
Pretensão de continuidade de uso das TD no Pós-Pandemia na Percepção dos Gestores |
N |
% |
Não, pois eles não contribuem para as atividades presenciais (0) |
0 |
0,0% |
Não, porque poucos dos recursos utilizados podem contribuir com as atividades presenciais (1) |
0 |
0,0% |
Sim, acredito que alguns dos recursos digitais foram incorporados como apoio às atividades pedagógicas (2) |
58 |
77,3% |
Sim, acredito que a grande maioria dos recursos digitais foi incorporada como apoio às atividades pedagógicas (3) |
17 |
22,7% |
Média |
2,23 |
|
Desvio Padrão |
0,421 |
Os resultados da Tabela 67 evidenciam um nível moderado (M=2,23, DP=0,421) quanto à pretensão de continuidade no uso de TD após a pandemia.
Apesar do nível ter se apresentado moderado, pode-se dizer que o valor médio está muito próximo ao nível elevado, considerando-se que o valor em causa poderia se situar entre o mínimo de 0 e o máximo de 3, e que o valor de 0 a 1,50 correspondia a um nível baixo, de 1,51 a 2,25, a um nível moderado, e de 2,26 a 3 pontos, a um nível elevado. Constata-se, ainda, que o DP apresentou um valor reduzido, indicando uniformidade nas opiniões dos gestores quanto à continuidade.
Desse modo, os resultados evidenciam uma visão bastante positiva por parte dos gestores no que se refere à continuidade do uso das TD nas atividades escolares após a volta ao ensino presencial, já que apenas os pontos 2 e 3 da escala, que confirmam a crença na continuidade do uso, foram assinalados pelos inquiridos.
Portanto, todos os respondentes acreditam que alguns ou a grande maioria dos recursos digitais agregados durante o ERE continuarão a ser utilizados nas atividades escolares após a pandemia, o que atesta a inovação nas práticas de ensino e aprendizagem com TD.
O depoimento de uma gestora, durante a entrevista, confirmou que, apesar da redução no uso dos recursos digitais, algumas práticas continuam a ser desenvolvidas em sua escola, evidenciando a inovação decorrente do ERE:
O YouTube ainda é usado. A escola tem um canal no YouTube. Inclusive, foi uma prática que ficou, porque a primeira aula do ano letivo é uma live. Nesse ano mesmo, de 2022, a gente voltou 100% presencial, mas a aula inicial foi pelo YouTube. O objetivo da live é abranger todos os alunos e os pais. Na verdade, fizemos duas lives. Aqui são 800 alunos: 450 pela manhã, 250 à tarde e 100 à noite. A gente fez uma live de manhã e uma live à tarde. Convidou os pais e os alunos. A gente apresenta a equipe da escola, apresenta o SigEduc. Foi uma prática que continuou. A gente fez no ano de 2021. Como deu certo, a gente repetiu em 2022. (GEAP, comunicação pessoal, 20 de outubro de 2022)
A continuidade no uso dos artefatos digitais incorporados no ERE por professores e estudantes também foi observada nas conversas com os gestores. Nesse sentido, GEA (Comunicação pessoal, 5 de novembro de 2022) relatou:
Com certeza, os professores e alunos continuam com essas práticas que eles incorporaram, uso de videoaula, de fazer atividades usando as tecnologias que não faziam antes. Eu não vou dizer a você com precisão que todos eles, porque eu não estou em sala de aula, mas digo a você que 90% dos professores, eles continuam com as práticas. Alguns reclamam até, por exemplo, do Meet, que atualmente só permite 1h de uso. Mas utilizam.
Mediante os resultados aqui discutidos, cabe ter em mente que os gestores, além de gerir as atividades administrativas e financeiras da escola, acompanham os processos de ensino e aprendizagem e, por isso, ao falarem de si, estão igualmente descrevendo sua visão acerca da continuidade de uso dos recursos digitais na escola onde atuam. Nesse sentido, com relação à não continuidade do uso de alguns recursos, um gestor referiu:
Alguns professores disseram que não há porque a gente usar o Classroom e o SigEduc ao mesmo tempo. Então, aboliram o Classroom. Agora, só usam o SigEduc. Justificam que a pandemia gerou alguns problemas de saúde. Não só nos alunos, nos professores também. Ansiedade. Há alguns que disseram que não conseguem mais assistir a um vídeo. Há uns professores que disseram que não conseguem mais participar de lives. Disseram que quando abrem a live, dá um negócio ruim na cabeça. Não aguentam, não suportam, não usam mais live. Eu acho que o não uso é mais isso: o cansaço mental que ficou na cabeça deles. Porque alguns ainda continuam utilizando alguns recursos. (GEM, comunicação pessoal, 13 de outubro de 2022)
A questão abordando a agregação de alguns recursos digitais pelos gestores e suas escolas nas atividades remotas durante a pandemia e a pretensão de continuar a utilizar esses recursos após a volta ao ensino presencial fez uso de uma escala de resposta de 4 pontos abrangendo 15 recursos digitais (0 = Nunca utilizei esse recurso; 1 = Já utilizava antes da pandemia; 2 = Comecei a usar durante a pandemia, mas não pretendo continuar utilizando; 3 = Passei a utilizar durante a pandemia e pretendo continuar utilizando após a pandemia), com o intento de identificar as mudanças e inovações ocorridas nas práticas escolares das escolas relativas ao uso das TD.
A Tabela 68 traz a distribuição dos gestores em relação a cada ponto da escala. Observa-se que, relativamente aos recursos e-mail e Plickers, nem todas as opções da escala foram assinaladas pelos inquiridos.
Tabela 68
Incorporação e Continuidade do Uso de Recursos Digitais na Percepção dos Gestores
Recurso Digital |
Média |
DP |
Nunca utilizei esse recurso (0) |
Já utilizava antes da pandemia (1) |
Comecei a usar durante a pandemia, mas não pretendo continuar utilizando (2) |
Passei a utilizar durante a pandemia e pretendo continuar utilizando após a pandemia (3) |
||||
|
|
|
N |
% |
N |
% |
N |
% |
N |
% |
Google Classroom |
1,51 |
1,201 |
25 |
33,3% |
6 |
8% |
25 |
33,3% |
19 |
25,4% |
Google Meet |
2,51 |
0,906 |
5 |
6,7% |
6 |
8% |
10 |
13,3% |
54 |
72% |
Zoom |
2,15 |
1,111 |
12 |
16% |
5 |
6,7% |
18 |
24% |
40 |
53,3% |
Google Drive |
1,60 |
1,151 |
14 |
18,7% |
28 |
37,3% |
7 |
9,3% |
26 |
34,7% |
|
1,04 |
0,346 |
1 |
1,3% |
72 |
96% |
0 |
0% |
2 |
2,7% |
Documentos compartilhados |
1,31 |
0,870 |
7 |
9,3% |
51 |
68% |
4 |
5,3% |
13 |
17,4% |
Google Agenda |
0,87 |
1,004 |
35 |
46,6% |
23 |
30,7% |
9 |
12% |
8 |
10,7% |
Google Formulários |
1,69 |
1,162 |
12 |
16% |
29 |
38,7% |
4 |
5,3% |
30 |
40% |
Google Jamboard |
0,31 |
0,870 |
66 |
88% |
1 |
1,3% |
2 |
2,7% |
6 |
8% |
Google Sites |
0,48 |
0,875 |
53 |
70,7% |
13 |
17,3% |
4 |
5,3% |
5 |
6,7% |
Kahoot |
0,43 |
0,903 |
58 |
77,3% |
8 |
10,7% |
3 |
4% |
6 |
8% |
Socrative |
0,13 |
0,475 |
68 |
90,7% |
5 |
6,7% |
1 |
1,3% |
1 |
1,3% |
Mentimeter |
0,39 |
0,899 |
61 |
81,3% |
5 |
6,7% |
3 |
4% |
6 |
8% |
Padlet |
0,45 |
0,963 |
59 |
78,7% |
5 |
6,7% |
4 |
5,3% |
7 |
9,3% |
Plickers |
0,05 |
0,364 |
73 |
97,4% |
1 |
1,3% |
0 |
0% |
1 |
1,3% |
Constata-se que as médias de dez dos quinze recursos digitais nominados na Tabela 68, nomeadamente a maioria, apresentam-se baixas, indicando pouca ou nenhuma agregação de recursos digitais durante o ERE.
De acordo com os scores apresentados, verifica-se que o Google Meet apresentou o índice mais elevado (M=2,51, DP=0,906), indicando um nível alto de agregação desse recurso durante a pandemia e de continuidade do seu uso no pós-pandemia, consequentemente, mudança e inovação.
Inversamente, observa-se que os recursos Plickers (M=0,05, DP=0,364), Socrative (M=0,13, DP=0,475), Google Jamboard (M=0,31, DP=0,870) e Mentimeter (M=0,39, DP=0,899) apresentaram os índices mais reduzidos, indicando baixa probabilidade de agregação e, por consequência, mudança.
Ressalta-se que o Zoom (M=2,15, DP=1,111), apesar de ter apresentado um índice moderado, quando se observa os percentuais de agregação durante o ERE deste recurso, relativamente aos dois últimos pontos da escala, percebe-se que, juntos, alcançam 77,3%, sendo que o último ponto, que enfatiza a pretensão de continuar a utilizá-lo, apresenta o percentual mais alto (53,3%), o que indica considerável mudança e inovação quanto ao uso deste recurso como apoio pedagógico na perceção dos gestores.
No que toca às TD agregadas às atividades remotas pelos gestores durante a pandemia e à pretensão de continuidade de seu uso na volta ao ensino presencial, para uma melhor compreensão, estas foram alocadas em 2 grupos e analisadas com base também nos percentuais apresentados. Em ambos os grupos estão tecnologias digitais agregadas no período pandêmico, indicando as mudanças ocorridas nas práticas da gestão escolar durante o ERE.
No primeiro grupo, encontram-se as TD que os gestores agregaram durante o ERE, mas não pretendem continuar a utilizar após a pandemia, sobressaindo-se dois recursos cujos índices de agregação apresentaram-se moderados: Google Classroom (33,3% e M=1,51, DP=1,201) e o Zoom (24%), acima comentado.
Relativamente às TD incorporadas durante a pandemia e a cujo uso os gestores pretendem dar continuidade após a volta ao formato presencial, inovando as práticas de gestão escolar, destacaram-se Google Meet (72%), Zoom (53,3%) e Google Formulários (40%). Cabe ressaltar que o Google Formulários (M=1,69, DP=1,162), embora tenha apresentado um índice moderado de agregação, foi apontado como um recurso que já vinha sendo utilizado antes da pandemia por 38,7% dos gestores.
Em sua narrativa, durante a entrevista, GEAP (Comunicação pessoal, 20 de outubro de 2022) descreveu como está utilizando esses recursos atualmente, após a volta ao ensino presencial: “Recentemente, tivemos uma reunião para a Feira de Ciências com o pessoal da DIREC usando o Zoom. Ainda fazemos algumas reuniões pelo Zoom. Porém, é um uso bem pontual”.
Considerando que os gestores acompanham as atividades pedagógicas desenvolvidas pelos professores, infere-se que utilizam as TD também nesse acompanhamento. Nesse sentido, se um professor repõe uma aula de forma online, por meio do Meet, por exemplo, o gestor utiliza o mesmo recurso para acompanhar essa aula.
A esse respeito, um dos gestores opina sobre como essas ferramentas estão sendo utilizadas pelos professores e estudantes das escolas onde exerce sua função (GEA, comunicação pessoal, 5 de novembro de 2022):
Dos recursos incorporados na pandemia que os professores e alunos ainda estão utilizando, eu sei do Google sala de aula, o Meet e o Zoom. Ah, já ia esquecendo o Google Forms. Eles ainda utilizam demais. Eu acho que continuam utilizando porque facilita o trabalho deles. Diminuiu, por exemplo, a questão do acúmulo de atividades, pela correção do Google Forms. O Youtube, que eles gravam a aula e já deixam essa aula gravada disponibilizada quando faltam. O Meet, por exemplo, se de repente o professor faltar de manhã, ele avisa a turma pelo WhatsApp, que à tarde vai entrar no Meet e vai pagar aquela aula, entendeu?
Apesar de não ter constado entre os recursos apresentados aos gestores na questão em foco, o SigEduc foi bastante mencionado durante a conversa com um dos gestores, especialmente o AVA Escola Digital:
O AVA Escola Digital a gente ainda usa. Um recurso que não era utilizado antes da pandemia, mas que, para mim, foi a melhor herança. Hoje, a gente consegue deixar tudo registrado. Às vezes o aluno me procurava e dizia: “Ah, eu fiz a atividade, mas o professor disse que não”. Fez, mas não anexou. Então, agora no SigEduc está tudo registrado. Facilitou também no monitoramento do aluno que estava participando, ou não. Eu repito: foi a melhor herança, em termos de recursos. (GEAP, comunicação pessoal, 20 de outubro de 2022)