3.4 Conclusões

3.4 Conclusões

 

É possível concluir que 23 dos 24 estudos analisados identificaram os principais tipos de tecnologias utilizadas nas atividades remotas durante a pandemia da Covid-19, descrevendo ou sugerindo (Grossi, 2021), embora de modo nem sempre aprofundado, as formas de utilização desses artefatos, bem como os desafios, benefícios, aprendizagens e possibilidades de replicar práticas adotadas no ensino remoto no pós-pandemia.

Neste sentido, o uso do WhatsApp e do celular destacaram-se na maioria das pesquisas, por sua acessibilidade, familiaridade e multifuncionalidade, sendo usados, em geral, para interagir com alunos e famílias por meio de mensagens de texto ou de voz, gravar e enviar vídeos e/ou videoaulas, realizar aulas síncronas e compartilhar arquivos, práticas em parte inovadoras que se agregaram e/ou modificaram os usos das TD já realizados por professores e alunos. Para isso, a rápida aprendizagem de vários aplicativos digitais foi necessária e efetivada com o apoio dos pares via interações nos grupos das redes sociais.

Em 10 dos 24 estudos, os professores reconheceram o potencial das tecnologias digitais para o ensino e a aprendizagem e admitiram ter a pretensão de continuar a usar estes recursos após a pandemia para uma educação mais tecnológica e híbrida. Esta foi uma das mudanças advindas do ERE, já que muitos deles não faziam (ou faziam pouco) uso destes recursos antes da pandemia.

Embora os estudos revelem a crença de que haverá impactos, estes não são especificados, embora a maioria acredite que serão positivos, tornando o ensino mais aberto, colaborativo e dialogado. Uma exceção citada foi o comprometimento da aprendizagem devido à exclusão digital que impediu o acesso pleno de alguns alunos às aulas remotas.

Apesar do não detalhamento dos impactos do ERE no pós-pandemia, ao identificar os benefícios, aprendizagens e possibilidades do ERE para as futuras práticas pedagógicas com o uso das TD, depreende-se possíveis agregações na busca de tecnologias mais adequadas a cada contexto e na possibilidade de inovação dessas práticas.

Entretanto, para inovar, faz-se necessário superar a maior dificuldade enfrentada por professores e alunos no ensino remoto, revelado por meio da RSL: a exclusão digital, que provou ser um fato preocupante e um desafio para práticas pedagógicas mediadas pelas tecnologias digitais e evidenciou a necessidade de formação inicial e contínua de professores, bem como de investimento em políticas públicas de inclusão digital para a educação.

Como temas emergentes na área pesquisada, a pesquisa revelou o interesse de alguns estudos (Cipriani et al., 2021; Oliveira & Amancio, 2021; Vaz et al., 2021) pelos impactos da pandemia e do ensino remoto na saúde mental e emocional dos professores e alunos, bem como nos efeitos da domestização do ensino durante esse período: invasão de privacidade, estresse, entre outros.

Lacunas também foram identificadas: somente dez dos 24 artigos abordaram as formas de avaliação utilizadas durante o ERE, sendo que cinco o fizeram de modo superficial ou pouco aprofundado. Apenas quatro dos 24 estudos teve como população investigada alunos, sendo que dois destes também envolveram professores. Apenas dois estudos abordaram as percepções de líderes escolares (diretor, vice-diretor), sendo que um destes também trabalhou com professores e assistentes de turma. Excetuando-se os estudos bibliográfico e documental de Holanda e Grossi, os 16 trabalhos restantes investigaram exclusivamente as práticas dos professores.

Ainda no âmbito metodológico, a abordagem qualitativa e o uso exclusivo do questionário online, via Google Forms, destacaram-se como os mais adotados. Com um tema tão amplo, restringir a coleta de dados a um tipo de instrumento pode ter limitado o estudo, impedindo o pesquisador de investigar o tema em toda a sua complexidade.

Houve silenciamento quanto ao método de análise dos dados por parte de doze estudos, o que demonstra limitada transparência em relação ao aspecto metodológico por parte dos pesquisadores e dos periódicos que publicaram os artigos.

A Tabela 6 apresenta resumidamente as principais informações acerca da metodologia utilizada nos estudos analisados.

 

Tabela 6

Aspectos Metodológicos dos estudos analisados na RSL

Aspectos Metodológicos dos Estudos analisados na RSL Total de Publicações (n = 24)
Abordagem adotada  Abordagem qualitativa (exploratória e/ou descritiva) 14 (58,3%)
(Aguiar et al., 2020; Costa, 2023; Friedrich et al., 2021; Godoi et al., 2021; Grossi, 2021; Holanda et al., 2021; Negrão & Neuenfeldt, 2022; Oliveira et al., 2023; Oliveira & Amancio, 2021; Rocha et al., 2020; Santos et al., 2021; Santos & Lacerda Júnior, 2022; Souza & Vasconcelos, 2021; Vaz et al., 2021)
Abordagem mista 1 (4,1%)
 (Galizia et al., 2022)
Sem indicação explícita de abordagem 9 (37,5%)
(Andrade et al., 2023; Cipriani et al., 2021; Dias-Trindade et al., 2020; Drijvers et al., 2021; Hu et al., 2021; Lucas & Moita, 2020; Samartinho et al., 2020; Scully et al., 2021; Starks, 2022)
Tipo de Pesquisa Pesquisa empírica (campo, estudo de caso, intervenção, ação, participativa) 21 (87,5%)
(Aguiar et al., 2020; Cipriani et al., 2021; Costa, 2023; Dias-Trindade et al., 2020; Drijvers et al., 2021; Friedrich et al., 2021; Galizia et al., 2022; Godoi et al., 2021; Hu et al., 2021; Lucas & Moita, 2020; Negrão & Neuenfeldt, 2022; Oliveira et al., 2023; Oliveira & Amancio, 2021; Rocha et al., 2020; Samartinho et al., 2020; Santos et al., 2021; Santos & Lacerda Júnior, 2022; Souza & Vasconcelos, 2021; Scully et al., 2021; Starks, 2022; Vaz et al., 2021)
Pesquisa bibliográfica 2 (8,3%)
(Andrade et al., 2023; Grossi, 2021)
Pesquisa documental 1 (4,1%)
(Holanda et al., 2021)
População estudada Professores da Educação Básica 6 (25%) 
(Cipriani et al., 2021; Dias-Trindade et al., 2020; Godoi et al., 2021; Oliveira & Amancio, 2021; Rocha et al., 2020; Vaz et al., 2021)
Professores, assistentes de turma, diretores e vice-diretores    1 (4,1%)
(Hu et al., 2021) 
Exclusivamente líderes escolares(diretores e vice-diretores) 1 (4,1%)
(Scully et al., 2021)
Exclusivamente alunos 4 (16,7%) 
2 (Friedrich et al., 2021; Samartinho et al., 2020)
Alunos e professores 2 (8,3%)
(Costa, 2023; Negrão & Neuenfeldt, 2022)
Estudos não-empíricos 2 (8,3%) 
(Grossi, 2021; Holanda et al., 2021)  
Obs.: A RSL que Andrade et al. (2023) realizaram abordou apenas estudos relatando práticas
Instrumento de Coleta de Dados Questionário online (GForms e SurveyHero)  14 (58,3%) 
(Cipriani et al., 2021; Dias-Trindade et al., 2020; Drijvers et al., 2021; Friedrich et al., 2021; Galizia et al., 2022; Godoi et al., 2021; Hu et al., 2021; Lucas & Moita, 2020; Oliveira & Amancio, 2021; Rocha et al., 2020; Santos et al., 2021; Scully et al., 2021; Souza & Vasconcelos, 2021; Vaz et al., 2021)
Questionário e entrevista em profundidade 1 (4,1%)
(Starks, 2022)
Questionário e observação participante 1 (4,1%)
 (Santos & Lacerda Júnior, 2022)
Questionário, roda de conversa e observação reflexiva 1 (4,1%)
 (Costa, 2023)
Entrevista 1 (4,1%)
 (Oliveira et al., 2023)
Narrativa autobiográfica e entrevista  1 (4,1%)
(Aguiar et al., 2020)
Entrevista e observação 1 (4,1%)
(Negrão & Neuenfeldt, 2022)
Não informado 1 (4,1%) 
(Samartinho et al., 2020)
Estudos não empíricos 3 (12,5%) 
(Andrade et al., 2023; Grossi, 2021; Holanda et al., 2021)
Método de Análise dos Dados Análise de Conteúdo (AC) 4 (16,7%)
(Aguiar et al., 2020; Holanda et al., 2021; Santos & Lacerda Júnior, 2022; Vaz et al., 2021)
Análise de Conteúdo e Análise Estatística (Descritiva) 2 (8,3%)
(Cipriani et al., 2021; Galizia et al., 2022)
Análise Textual Discursiva  3 (12,5%)
 (Friedrich et al., 2021; Negrão & Neuenfeldt, 2022; Oliveira & Amancio, 2021)
Análise item por item  1 (4,1%)
 (Drijvers et al., 2021)
Análise Temática e Análise multinível de respostas múltiplas 1 (4,1%)
(Hu et al., 2021)
Codificação temática e Análise cruzada de casos 1 (4,1%)
Starks (2022)
Não informado 12 (50%) 
(Andrade et al., 2023; Costa, 2023; Dias-Trindade et al., 2020; Godoi et al., 2021; Grossi, 2021; Lucas & Moita, 2020
Oliveira et al., 2023; Rocha et al., 2020; Samartinho et al., 2020; Santos et al., 2021; Scully et al., 2021; Souza & Vasconcelos, 2021)

Considerando as diversas investigações analisadas nesta RSL, é possível perceber que, apesar de a maioria abordar os impactos da pandemia da Covid-19 nas práticas de ensino e aprendizagem da Educação Básica brasileira e parte deles na educação de outros países (Portugal, Irlanda, China, Estados Unidos, Bélgica, Alemanha e Países Baixos), a identificação das lacunas identificadas na análise destes estudos ajudou a justificar a relevância da presente investigação de doutoramento.

Neste sentido, relativamente às aludidas lacunas, a investigação a ser desenvolvida no âmbito do Doutoramento em Educação da Ulisboa pretende: i) pesquisar as formas de avaliar com o uso de TD durante o ERE; ii) ter, como população investigada, não apenas professores, mas também estudantes e gestores do ensino médio; e, iii) desenvolver um estudo misto, utilizando dois instrumentos de recolha de dados (questionários e entrevistas).

A pandemia da Covid-19 é um tema ainda bastante atual e seus efeitos no âmbito educativo ainda continuam sendo pesquisados e os resultados, publicados. Por isso, a revisão de literatura constituiu um processo contínuo, dando-se ao longo de todo o período do doutoramento.