6.4.2 (continua) Q24 Pretensão de continuidade no uso das TD agregadas durante a Pandemia

Q24 Pretensão de continuidade no uso das TD agregadas durante a Pandemia

 

A Tabela 87 mostra os dados descritivos das diferenças entre os 3 grupos no que se refere à variável “Pretensão de continuidade do uso das TD incorporadas durante a pandemia”.

Tabela 87

Estatísticas Descritivas da Pretensão de Continuidade do Uso de Recursos Digitais incorporados na Pandemia - Amostra Total e Separada por Grupos

Q24 Após o fim do ERE, você pretende continuar utilizando os recursos digitais incorporados durante a pandemia nos/as seus/suas aulas/estudos?
  Estatística Bootstrapa
Erro Padrão BCa 95% de Intervalo de Confiança
Inferior Superior
Gestor N 75 9 60 92
  Média 2,23 0,05 2,14 2,32
  Desvio padrão 0,421 0,032 0,349 0,471
Professor N 237 14 211 262
  Média 2,02 0,04 1,93 2,1
  Desvio padrão 0,631 0,043 0,545 0,709
Estudante N 1812 16 1780 1844
  Média 1,65 0,02 1,61 1,69
  Desvio padrão 0,916 0,013 0,889 0,941
Amostra  N 2124 0 . .
 total Média 1,71 0,02 1,67 1,75
  Desvio padrão 0,888 0,012 0,864 0,912
a. A menos que indicado de outra maneira, os resultados da bootstrap são baseados em 1000 amostras bootstrap.

Com base na ANOVA de Welch, foram encontradas diferenças estatisticamente significativas entre os grupos [Welch´s F (2, 204,867) = 75,727, p = <,001].

O teste de Games-Howell apresentou diferenças significativas entre os scores médios dos três grupos em análise: Gestor/Professor, Gestor/Estudante e Estudante/Professor (Tabela 88).

Tabela 88

Teste Post-hoc de Games-Howell com Bootstrapping (95% IC BCa) da Variável Pretensão de Continuidade do Uso de Recursos Digitais incorporados na Pandemia

Bootstrap para Comparações múltiplas
Q24 Após o fim do ERE, você pretende continuar utilizando os recursos digitais incorporados durante a pandemia nos/as seus/suas aulas/estudos?
Games-Howell  
Comparações entre grupos Diferença de médias Bootstrapa
Viés Erro Padrão BCa 95% de Intervalo de Confiança
Inferior Superior
Gestor Professor 0,21 0,064 0,085 0,336 0,21
Estudante 0,574 0,054 0,475 0,686 0,574
Professor Gestor -0,21 0,064 -0,337 -0,084 -0,21
Estudante 0,365 0,047 0,269 0,457 0,365
Estudante Gestor -0,574 0,054 -0,69 -0,475 -0,574
Professor -0,365 0,047 -0,457 -0,271 -0,365
a. A menos que indicado de outra maneira, os resultados da bootstrap são baseados em 1000 amostras bootstrap.

No que diz respeito aos pares Gestor/Professor e Gestor/Estudante, constata-se, pela análise das Tabelas 87 e 88, que o score médio dos gestores foi mais elevado (M=2,23) do que os scores dos professores (M=2,02) e dos estudantes (M=1,65), demonstrando uma perspectiva mais otimista deste segmento quanto à continuidade do uso de TD nas atividades escolares após o ERE, com a volta total ao ensino presencial.

Vale ressaltar que, no questionário dos gestores, a questão foi formulada de modo mais amplo, buscando investigar a percepção deste segmento quanto à continuidade no uso dos recursos digitais incorporados durante a pandemia nas “atividades escolares”, o que inclui, além das tarefas administrativas, as atividades de ensino e aprendizagem desenvolvidas por professores e estudantes. A fala de um dos gestores entrevistados comprova: “Acho que vão continuar utilizando os recursos. Os alunos, principalmente. Hoje em dia, há professor que envia a nota por QR Code. Alguns professores se adaptaram” (GEAP, comunicação pessoal, 20 de outubro de 2022).

Quanto ao par Estudante/Professor, cuja questão referia à continuidade do uso das TD nas práticas individuais dos dois grupos, os estudantes apresentaram um score mais baixo [(DM = -,365, IC 95% BCa (-,271 – -365)] em relação aos professores, indicando uma postura menos entusiástica destes indivíduos quanto à pretensão de continuar utilizando as TD incorporadas na pandemia.

Para o professor, o ERE, apesar dos desafios, fez descortinar possibilidades pedagógicas indescritíveis e variadas no que tange ao papel das tecnologias digitais nas práticas de ensino, o que pode explicar seu score médio ter sido superior ao dos estudantes quanto à intenção de continuar utilizando esses artefatos no pós-pandemia.

É o que confirmam os professores: “Continuo utilizando pela facilidade. Pelo próprio fato das ferramentas trazerem excelente resultado. Tipo: as transmissões geralmente são boas, de onde eu faço, né? O acesso ao aluno é rápido, é bom” (P1M, comunicação pessoal, 18 de novembro de 2022).

 

Continuo a utilizar as tecnologias porque é algo prático. Porque tudo fica organizado, você tem acesso ao conteúdo de forma rápida e fácil. O que está no drive, por exemplo, você tem acesso em qualquer computador com internet. O Classroom é organizado, estruturado, você consegue ter uma linha do tempo para trabalhar o conteúdo, consegue fazer um planejamento mais adequado; se precisar regredir, regride. O ganho de compreensão, de conhecimento, é bem maior. (P2A, comunicação pessoal, 1 de novembro de 2022)

 

O baixo score médio dos estudantes está, possivelmente, ligado à sua exclusão digital, aqui já fartamente comprovada e discutida, mas também à questão da associação do uso das TD aos efeitos da pandemia na saúde mental destes sujeitos, como ansiedade, depressão, tentativa de suicídio, etc., citados por vários professores. P2M (Comunicação pessoal, 13 de outubro de 2022) resumiu:

Por um determinado tempo, sim, continuei a usar o Classroom. Mas, surgiram umas queixas de alguns alunos de que não era legal, pela falta de acesso. Aí, eu fui abandonando. Porque, apesar de entender que essas são ferramentas importantes para facilitar a aprendizagem, eu vi que estava tendo uma certa rejeição. Eu não sei se isso trazia lembrança do momento, do período pandêmico. A gente teve muitos problemas aqui com relação aos alunos. Não só do acesso, mas de saúde mental. Então, há uma rejeição. E tem a ver com a mente deles. A gente enfrentou muita coisa nesse sentido aqui, com os alunos. Teve a questão da depressão, dos pais que perderam o emprego e de uns alunos que tiveram que sair para trabalhar. Olha, existe uma série de fatores que contribuem ou não para a continuidade desse uso.

 

Pretto e Bonilla (2022, p. 156) asseveram que o ERE demandou um “amplo e intenso uso das tecnologias digitais e de conexão à internet de qualidade”, cabendo aos professores e às famílias a responsabilidade para organizar e manter infraestrutura física e tecnológica para viabilizar as aulas remotas. No entanto, nem todas as famílias possuíam tal infraestrutura.

Muitos estudantes de famílias de baixa renda (classes DE), além da inexistência de espaço e de dispositivos tecnológicos em casa, também enfrentaram a ausência de conectividade, o que impactou na capacidade de realizar as atividades escolares (Pretto & Bonilla, 2022) e pode também explicar o score mais baixo dos estudantes, em relação ao dos professores e gestores, quanto à pretensão de continuar a usar as TD incorporadas no ERE.