7.3 Questão de Investigação III – Pretensão de Continuidade das Práticas com Tecnologias Digitais agregadas no ERE

7.3 Questão de Investigação III – Pretensão de Continuidade das Práticas com Tecnologias Digitais agregadas no ERE

 

Para desenvolver aulas e atividades remotas, diversas práticas com o uso das tecnologias digitais foram agregadas aos processos ensino e aprendizagem, modificando-os (envio/recebimento de arquivos e atividades, interação e comunicação simultâneas, produção de vídeos, podcasts e outros materiais, lives, seminários online, aulas/sessões síncronas, quizzes, etc.).

Neste sentido, a terceira questão de investigação buscou investigar se os estudantes, professores e gestores pretendiam continuar a utilizar as tecnologias digitais agregadas durante o ERE em suas práticas escolares no pós-pandemia.

Apesar dos desafios enfrentados no período, os resultados junto aos três grupos respondentes foram bastante positivos. No entanto, o grupo dos gestores destacou-se, já que todos os respondentes deste segmento (100%) acreditam que algumas ou grande parte das tecnologias digitais agregadas no ERE foram ou serão incorporadas nas atividades escolares após a pandemia, inovando-as (Messina, 2001), proporção superior à dos professores (88,6%) e estudantes (66,7%).

Para os três segmentos, a continuidade do uso de alguns recursos digitais agregados no ERE já se tornou algo concreto, atestando a mudança e inovação das práticas de ensino e aprendizagem com TD. Recursos como Classroom, Forms e Meet, por exemplo, continuam a ser utilizados para complementar aulas, realizar reuniões online, na impossibilidade de encontros presenciais, compartilhar materiais e realizar atividades online.

A motivação para a continuidade do uso dos recursos digitais agregados no ERE é atribuída, pelos participantes, ao seu potencial para contribuir com os processos ensino e aprendizagem e de gestão escolar, concretizado em inúmeras mais-valias mencionadas: facilidade e rapidez de acesso ao conteúdo e às informações; praticidade; organização de materiais; capacidade de interação de diferentes lugares; flexibilidade temporal e espacial no acesso ao conteúdo; colaboração; motivação; inovação e diversificação de recursos e estratégias metodológicas; autonomia; agilidade na comunicação entre os membros da comunidade escolar; otimização do acesso simultâneo aos alunos e professores; etc.

Neste sentido, no que diz se refere à contribuição das TD agregadas durante o ERE, os três grupos apresentaram uma perspetiva positiva, embora os gestores (98,7%) tenham se sobressaído em relação aos professores (91,1%) e estudantes (70,5%) na crença de que os recursos digitais contribuem para as atividades pedagógicas e de gestão escolar.

Problemas de saúde surgidos durante a pandemia (ansiedade, cansaço mental, depressão, etc.) e a falta de infraestrutura tecnológica das escolas e dos estudantes são fatores que podem explicar o percentual mais baixo dos estudantes na crença sobre a contribuição das TD para o seu processo de aprendizagem e a redução do uso de alguns recursos no pós-pandemia, nomeadamente, dos aplicativos de webconferência.

A inovação das práticas de ensino e aprendizagem por meio da continuidade do uso de TD agregadas no ERE também foi indicada na literatura nacional publicada no período da pandemia (Godoi et al., 2021; Lucas & Moita, 2020; Negrão & Neuenfeldt, 2022; Souza & Vasconcelos, 2021) e na China (Hu et al., 2021), confirmando a semelhança com outros contextos para além do estado do RN - Brasil.

Em resposta ao problema de pesquisa que instigou o estudo, pode-se concluir que, indubitavelmente, a pandemia e suas restrições modificaram as práticas de ensino e aprendizagem das escolas estaduais de ensino médio do RN – Brasil, no que toca ao uso das TD, mesmo que não de forma radical nem em sentido irreversível.

A alteração do ensino presencial para aulas e atividades remotas, uma mudança per si, deu origem a várias outras modificações nas formas de ensinar, aprender e de gerir as escolas do estado do RN já referidas ao longo deste estudo.

Algumas destas mudanças identificadas nos dados analisados foram: realização de aulas e sessões síncronas via plataformas de webconferência; redução do tempo das aulas (síncronas) ministradas, para não cansar ou desmotivar os alunos; flexibilização nas formas (online e impressa) e tempo de duração (mais longo) das atividades e avaliações, em razão da dificuldade de acesso às TD da maioria dos alunos; envio e recebimento de conteúdo e atividades via e-mail ou redes sociais; aluno e professor passam a ser frequentes produtores de conteúdo online (quiz, videoaula, jogos, seminário virtual etc.); reposição de aula presencial por aulas online via plataforma de webconferência (quando o professor, por algum motivo, não pôde ministrar aula no dia calendarizado); participação da gestão em reuniões online; aumento da autonomia do aluno, ao buscar esclarecer suas dúvidas por meio de videoaulas encontradas na web; etc.

Como os dados demonstraram, durante a pandemia, o uso das TD nas práticas de ensino e aprendizagem foi intensificado, sendo enorme a variedade de recursos digitais utilizados. Em decorrência disto, as habilidades para usar as TD dos respondentes foram ampliadas, juntamente com a crença na contribuição destes recursos para suas práticas escolares.

Portanto, considera-se que os resultados apresentados indicam, sim, a modificação das práticas escolares de estudantes, professores e gestores do ensino médio da rede pública do estado do Rio Grande do Norte - Brasil, relativamente ao uso das tecnologias digitais, sendo a integração e continuidade do uso de TD e de estratégias de ensino online no processo ensino e aprendizagem (p. ex., sessões síncronas via Google Meet ou realização de atividades nas plataformas online) as principais mudanças e inovações ocorridas.

A investigação mostrou, ainda, que, embora tenha havido a integração de novas estratégias pedagógicas nas práticas de ensino e aprendizagem, algumas mais interativas e focadas no aluno como protagonista de sua aprendizagem, predominaram práticas centradas no professor e na instrução/transmissão de conteúdo, apesar do potencial inovador das tecnologias digitais.